Palestra sobre saúde mental pós tragédias abre Semana de Formação Docente
Publicado em 31/07/2024
Escrito por: Caue Fonseca
Psicóloga compartilhou informações sobre amparo aos atingidos por enchentes
Uma conversa importante sobre o amparo psicológico após eventos trágicos, como a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio passado, abriu a Semana de Formação Docente da Atitus Educação, que ocorre antes de cada semestre letivo.
A palestra “Saúde Mental em Situações de Crise”, ministrada pela psicóloga Bruna Dal Fiume Armelin, ocorreu na noite de segunda-feira (29) no auditório da Atitus Educação do Campus Mont’Serrat, em Porto Alegre, e foi transmitida ao corpo docente de Passo Fundo.
Entre formações correlatas, Bruna é especialista em Aconselhamentos, Intervenções, Urgências e Catástrofes pela Universidade de Málaga, na Espanha, e em Gestão de Riscos e Desastres Naturais pela Faculdade Dom Bosco.
Partindo do episódio ocorrido no RS, a psicóloga compartilhou dados como uma pesquisa do Reino Unido sobre efeitos de inundações sobre a saúde mental de uma população.
Conforme a pesquisa, a chance de pessoas diretamente atingidas desenvolverem adoecimentos como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático é seis vezes superior em relação a pessoas não afetadas. Há também índices substanciais de problemas de saúde mental entre pessoas atingidas diretamente e indiretamente até pelo menos três anos após o episódio.
Porém, Bruna ressalta que eles podem ser prevenidos e mitigados, especialmente se houver a ação de profissionais de saúde mental no momento do desastre. “Daí a importância da prevenção. Não adianta acontecer o desastre e só então eu planejar uma intervenção. Hoje, nós estamos em um pós-desastre que também pode ser um pré-desastre. O que nós e os profissionais dos nossos cursos podem fazer para evitar que ele volte a acontecer?”, questionou.
Ela também listou sintomas pouco debatidos, mas que também afetam populações atingidas. Um dos exemplos é a chamada fadiga por compaixão, quando as pessoas sofrem por sentirem culpa de ter outras preocupações ou prazeres após a tragédia ou por incapacidade de fazer mais por quem foi diretamente atingido.
A psicóloga enfatizou ainda o papel importante dos professores em sala de aula para auxiliar alunos a retornar à sua capacidade pré-crise de se concentrar e funcionar academicamente. Para tal, Bruna aconselhou que os professores conversem com os alunos sobre o processo de recuperação e se coloquem à disposição no que puderem ajudar.
“O aprendizado de uma graduação está ligado à auto realização. Se eu estou sofrendo necessidades básicas, eu não consigo estar focado em aprender”, disse a psicóloga.
Também foram abordadas as formas de fazer essa comunicação verbal e não verbal, que deve ser feito de forma clara, calma, com postura e gestual sincera de interesse e evitando comparações, apelos à espiritualidade ou expressões lugares-comuns, como “foram só bens materiais”, “agradeça por estar viva” ou “você tem que ser forte”.
Bruna, porém, ressaltou a capacidade de resiliência das pessoas. Ou seja: ainda que populações atingidas por uma tragédia possam apresentar perturbações transitórias no seu funcionamento normal, elas podem voltar a uma trajetória estável ao longo do tempo.